quinta-feira, 8 de julho de 2010

Lembranças de meu avô

Todo mundo já teve avó. E histórias de avó, então, é dessas que a gente coleciona, pra contar para nossos filhos, netos, etc.
Me acho muito parecida com ele, desses que não sabem ficar sem fazer nada. Pois é. Meu avô adorava carros. Teve uma época que não dava tempo de ver o carro que ele estava porque ele já tinha trocado...era um atrás do outro. Tinha até uma propaganda na época do posto Ipiranga que era um senhorzinho conversando com sua esposa, comentando a marca e o ano de cada carro que ele teve e depois ele esquece o nome dela...meu vô era assim, apaixonado por carro. Ele queria muito ter um fusca preto ou roxo...No anel viário ele corria pra caramba (na época não existia radar) e quando tinha algum carro caro e que andasse devagar ele quase encostava na traseira e dizia: vamos ver se esse carro corre! Era um barato! Ele não podia ver carro parado que já ia lavar...passava detergente nos pneus pra deixar brilhando, lavava o carro, deixava tinindo...um dia ele ensaboou o carro e não repassou e precisou sair. Era espuma pra tudo que é lado. Ele queria muito que meu primo (na época menor de idade) começasse a dirigir...nem tamanho ele tinha mas ele insistia no assunto.
Outra coisa que ele gostava bastante era de plantas. Ele adorava plantar e cuidar dos vasos e da pequena horta. Quando ainda tinha a chacrinha ele passava o dia lá. Tinha pé de abacate, ceriguela (eu odiava), manga, jaboticaba, banana, uma laranjinha bem azeda e que eu adorava (nunca mais achei dela) couve, alface, rúcula, mandioca, etc.
Era uma delícia aquele lugar. Era um terrenão, sem nada, mas era muito legal. Meu vô fez até uma cabaninha de índio pra gente...era muito legal.
Lembro que na chacrinha do lado tinha uma vaca. A gente dava coisas pra ela comer. Eu ficava impressionada com a lingua enorme dela e super peluda.
Era legal arrancar mandioca. A gente tentava ajudar mas sempre tomávamos vários tombos. E o chão era de terra vermelha. Uma diversão que muita criança não sabe o que é.
O gosto de fruta fresca, do cheirinho da horta, da terra molhada, é o cheiro da minha infância.
Meu vô era super cuidadoso com os cabelos. Tanto é que muita gente achava que ele era o marido da minha tia e não meu tio, já grisalho na época.
O cabelo dele era pretinho e tinha um topete bem estilo Elvis. Passa Trim religiosamente.
Um dia ele confundiu e passou Tandy aquela pasta de dente de criança sabor morango e chei de glitter. E saiu pra trabalhar. Os comerciantes acharam super arraso o cabelo dele.
Varrer. Essa era outra mania dele. Ele varria a rua inteira e lavava. Uma vez ele colocou folhas secas no bueiro e tacou fogo. Quase ele estourou a tubulação da avenida toda.
Ele tinha mania de fogo também. Tudo ele tacava fogo, era impressionante. E as roupas viviam com buracos de cigarro. Os móveis também.
Aos domingos a gente ia lá e quando tava na hora do almoço ele enchia nossos copos de refrigerante mesmo sem a gente querer. Pra ele não tinha miséria.
Na hora do jantar a gente ia chamá-lo na casinha e ele estava lá, na frente da TV com volume bem alto e com um oculos de grau que ele achou, sentado a um palmo da TV. Sempre assistindo Planeta Terra da Cultura. Quando ele ficava sozinho ele fazia as mais diversas gororobas já vistas. Pegava tudo que tinha sobrado na geladeira e misturava tudo. E quebrava um ovo pra dar liga.
Lembro que a última vez que almoçamos juntos foi num domingo. Eu, minha irmã e minha mãe fomos lá almoçar e lembro dele ter feito beterraba. Muita beterraba. Dava pra alimentar um time de futebol. Isso eu também herdei um pouco dele, o exagero. Tava uma delícia. Nesse dia ele me contou como se livrou da sinusite: um dia de crise de sinusite um amigo caminhoneiro mandou ele tomar um remédio pra cavalo e ele tomou. Passou mal, espirrava um negócio preto mas ele disse que depois desse dia nunca mais teve sinusite. Se é verdade, não sei. Histórias de vô Lauro...